As fissuras labiopalatinas (conhecida por alguns como “lábio leporino”)  são os defeitos congênitos mais comuns entre as malformações que afetam a face do ser humano. De origem latina, a palavra “’fissura” significa abertura, fenda.

Nas primeiras semanas de vida intrauterina, tanto o lábio como o palato (“céu da boca”) estão separados. Com o passar dos dias os tecidos que formarão essas estruturas se unem no centro da face. As fissuras labiopalatinas se formam ao redor da quarta semana após a concepção e são resultado de uma não fusão do processo frontonasal da face com as
proeminências maxilares laterais, ou seja, o fechamento incompleto de estruturas embrionárias que formariam lábio superior e/ou palato.

Essa malformação tem uma incidência de 1:1000 nascimentos e, associada à fissura palatal, tem uma incidência de aproximadamente 5:1000 nascimentos.

Não há um fator causal exclusivo para a ocorrência das fissuras.

Acredita-se que elas ocorram por uma interação de fatores ambientais e genéticos, o que chamamos de herança multifatorial.

Os fatores de risco mais conhecidos são o uso de bebidas alcoólicas, tabagismo e uso de medicações específicas, como alguns anticonvulsivantes, principalmente no primeiro trimestre de gestação. Portanto cabe aqui ressaltar a importância de não se automedicar.

A ação desses fatores depende de uma predisposição individual (interação gene x ambiente).

As fissuras lábio palatinas podem ser detectadas precocemente
no período pré-natal por meio da ultrassonografia, quando realizada por profissional habilitado.

Podem apresentar-se de diversas maneiras, dependendo do tamanho da fenda e das estruturas afetadas na face.

As fissuras comumente se localizam lateralmente à linha média (à direita ou à esquerda), podendo ser isoladas ou como parte de um complexo malformativo (síndromes). As fissuras medianas podem estar relacionadas a alterações de formação cerebrais, especialmente holoprosencefalia, que frequentemente se associa à trissomia do cromossomo 13 (Síndrome de Patau).

Diferentes formas de apresentação das fissuras labiopalatinas.

Quando a fenda acomete apenas o lábio, tem um excelente prognóstico estético de correção pós-natal. Nos casos em que há extensão para o palato, a correção estética também tem um bom prognóstico, porém geralmente há necessidade de mais intervenções.

As fissuras labiopalatinas não são apenas um problema estético.

Podem ser causa de problemas de saúde que afetam a nutrição, distúrbios respiratórios, de fala e audição, infecções crônicas e alterações na dentição. Da mesma forma, podem também na criança ter efeitos na sociabilidade e de autoestima.

O acompanhamento multidisciplinar mesmo antes do nascimento pode fazer a diferença. Desde o diagnóstico por um profissional habilitado, capaz de orientar o casal, as informações de um pediatra neonatologista sobre o que está por vir, até a supervisão por psicólogos para dar apoio ao casal que terá de lidar com a difícil informação de uma alteração na face do seu bebê.

A consultoria de uma enfermeira especializada em amamentação também pode acalmar a mãe. O aleitamento materno é sempre a melhor forma de alimentar a criança nos primeiros meses de vida, mesmo que apresente uma fenda orofacial. Quando não houver possibilidade do aleitamento no seio materno, existem orientações para armazenamento de leite e mamadeiras especiais que podem ser usadas.

Diferentes fases do tratamento da fissura labiopalatina.

O tratamento também requer abordagem multidisciplinar, isto é, a participação de especialistas na área de cirurgia plástica, otorrinolaringologia, odontologia, fonoaudiologia, por exemplo.

Por Dra. Ana Paula Passos, médica especialista em Medicina fetal do corpo clínico da Wave.